domingo, 14 de setembro de 2008

Amá-la.

Sabe qual é o meu problema Amália?
É que eu me perco nas linhas dos teus cadarços desamarrados.
E antes de tu me tocares com tuas mãos tão sedosas, eu já usava as minhas tão calejadas pra traduzir sentimentos em palavras mal escritas nas folhas de papel amareladas.
Antes de tu me beijares, eu já usava minha boca pra não dizer nada, e agora eu me pego falando coisas que nem queria, são palavras que saltam somente na tua presença.
É certo que depois que você me surgiu assim tão linda, eu procurava mas não achava meio de viver sem ti.
Eu me deixei levar por ti minha querida, eu tenho minha tão amada culpa em toda essa rede que tecemos pra nossas vidas.
Mas agora não sei... não sei se devemos ficar juntos.
Eu tenho toda a certeza do mundo que ainda te amo, mas minhas artérias pulsam pedindo mais sangue.
Porque eu já sei teus passos de cor e toda minha alegria era tentar desvendar que rumo teus pés iriam tomar, embora sabendo que seriam pra mim.
Porque era certo que devíamos nos encontrar e dividir nossos pratos, nossas vidas, nossos lençóis.
Tu és a mulher da minha vida, Amália.
Mas agora já não sei mais ler, nem escrever.
Me fizeste analfabeto das minhas poesias que não encontram inspiração em outra coisa que não em ti.
Todas as palavras que escrevo seguem o mesmo ritmo descompassado que tem o teu salto alto em nosso piso de madeira.
Sinto falta de minhas melodias melancólicas daqueles que tudo imaginam sobre o amor, sem nada conhecer - esses são os que tudo sabem.
Eu era um desses.
Já não sei com que força te escrevo esta carta, acho que com a força da minha covardia, porque se não fosse assim, teria de olhar nos teus olhos, e isso doeria mais que tudo.
Não sei usar minha fala, não sei mais comer, não sei que rumo tomar nessa vida.
Porque eu que era mil, me juntei em um só ser com você.
Mas isso agora me parece tão pouco...
De alguma forma eu sempre sabia que um dia ia acabar, sabe? eu e você.
Sabe por quê meu amor? eu já era artista antes de te conhecer.